10 setembro 2025

A história da Internet

Se nos perguntassem quem inventou o pára-raios, a lâmpada, o telefone ou a radio, responderiamos com facilidade Benjamin Franklin, Thomas Edison, Alexander Graham Bell e Guglielmo Marconi. Mas quem inventou a Internet? Essa é uma pergunta que não tem uma resposta fácil.

A origem da Internet

A Internet surgiu de uma necessidade do tempo da Guerra Fria, um tempo em que os Estados Unidos estavam totalmente empenhados em manter e desenvolver a sua liderança tecnológica (com fins militares). E, para esse esforço, a contribuição da investigação das universidades era determinante.

Acontece que as universidades dos EUA tinham os melhores computadores do mundo, mas as pesquisas patrocinadas pelo Pentágono avançavam devagar pelo facto de esses computadores estarem isolados. A interligação (do inglês: internetworking, abreviado como internet) desses computadores era um problema sério, para cuja resolução o governo decidiu atribuir verbas públicas.

Foi desta conjugação de esforços que veio nascer a Internet, ainda que numa versão inicial bastante diferente daquilo que hoje conhecemos.

A Partir de 1966, a agência governamental DARPA começou a financiar universidades para que desenvolvessem soluções para o problema da internet. Esse incentivo estatal  veio a dar origem a protocolos e normas fundamentais como o TCP/IP, UDP, Telnet, e o e-mail, entre outros. O setor privado também não ficou de fora desta iniciativa. Em resposta a esse desafio de desenvolvimento de produtos para redes, as empresas também contribuíram com standards decisivos como o Ethernet (Xerox, Intel e Digital Equipment Corporation - DEC) ou o Spanning Tree Protocol (Digital Equipment Corporation - DEC).

Todas essas tecnologias reunidas permitiram a formação de uma rede mundial de computadores e seu nome de batismo foi precisamente Internet (agora já com “I” maiúsculo), que em português poderíamos traduzir por inter-rede. Para compreendermos  importância de tudo isto, pensemos que o Ethernet e o TCP/IP, que permitiram tudo isto, foram criados em 1973 e 1974, respectivamente. Agora pensem nisto: que outra tecnologia de informação usamos hoje que também tenha já mais de 50 anos?

Essa longevidade só foi possível porque , naquela altura, não houve exatamente uma mentalidade comercial por parte dos seus criadores, mas sim uma perspetiva científica e puramente criativa. Tudo foi feito para ser bom, barato e duradouro. 

Um exemplo, do nosso dia a dia, de tudo isto é o email (SMTP), de 1982. Todos os nossos computadores (e telemóveis e tablets) têm programas para o usar. Cada um de nós pode escolher livremente qual a empresa que nos fornece esse serviço - Google, Hotmail, Yahoo, Sapo, etc - assim como qual o programa que queremos usar para aceder a esse serviço - Gmail, Outlook, Thunderbird, etc - e temos a certeza de que tudo funciona. As nossas mensagens chegam a todos os destinatários, mesmo que usem o serviço de um concorrente do nosso fornecedor. Que outros produtos ou serviços conhecem que tenham esta interoperabilidade? Por exemplo, o Whatsapp só permite enviar e receber mensagens de outro utilizador WhatsApp. O Messenger só permite enviar mensagens para outros utilizadores de Messenger. O mesmo para o Telegram. Isso acontece porque esses serviços já foram desenvolvidos com base em normas e objetivos comerciais e não em standards abertos, partilhados entre todos, como foi o caso da Internet.

Uma história interessante que ilustra o que foi dito atras é a seguinte. Em 1989 dois engenheiros de empresas rivais, Lougheed da Cisco e Rekhter da IBM, almoçavam juntos num dos intervalos da conferência IETF (Internet Engineering Task Force). Desse encontro ficaram para a história dois guardanapos de papel usados durante o almoço.

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Nesses guardanapos está rascunhado o Border Gateway Protocol (BGP), um protocolo fundamental do funcionamento da Internet. Lougheed e Rekhter não ficaram ricos com essa invenção, ela é um padrão aberto que qualquer fabricante pode usar sem ter de pagar direitos de autor, o mesmo acontecendo com todos os demais protocolos usados na Internet.

Atualmente, os novos protocolos e produtos desenvolvidos já têm o seu berço no setor privado, sem a interoperabilidade e a longevidade de outrora. A incubadora que permitiu desenvolver a Internet já não existe nos dias de hoje, foi um momento único na História. A Internet nasceu na Guerra Fria, unindo governo, universidades e empresas. Hoje, quase totalmente entregue a interesses comerciais, a Internet enfrenta desafios que ameaçam a sua liberdade e interoperabilidade.


Mas a história da Internet, tal como a conhecemos hoje, não estaria completa sem abordarmos dois componentes fundamentais: a World Wide Web (WWW) e o browser. A história da WWW e do browser são inseparáveis, pois uma não existiria, da forma que a conhecemos, sem a outra. A WWW é o sistema de informação, e o browser é a ferramenta que nos permite utilizá-lo de forma simples.

A Criação da World Wide Web (WWW)

A história da WWW começa em 1989, no CERN (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear), na Suíça. O físico britânico Tim Berners-Lee trabalhava num projeto para ajudar os cientistas a partilhar informações de forma mais fácil. Na época, os computadores e as redes (a Internet) existiam, mas a informação em si ficava guardada em máquinas individuais. Berners-Lee queria criar um sistema onde documentos de texto pudessem ser interligados e acedidos por qualquer pessoa, em qualquer lugar.

A sua proposta inicial, intitulada "Information Management: A Proposal", foi vista com ceticismo. No entanto, ele persistiu e, em 1990, desenvolveu os três pilares fundamentais da Web:

  • HTML (HyperText Markup Language): A linguagem para criar as páginas e associar textos (hyperlinks)
  • URI (Uniform Resource Identifier): O endereço único para cada página (hoje conhecido como URL)
  • HTTP (HyperText Transfer Protocol): O protocolo que permite a comunicação entre o servidor e o computador do utilizador

No final de 1990, Berners-Lee lançou o primeiro site do mundo, no qual explicava a própria World Wide Web. Em 1991, ele disponibilizou publicamente o código da Web, sem patentes ou royalties, garantindo desse modo que ela pudesse crescer livremente.

Esta World Wide Web, assim disponibilizada a toda a gente, é aquilo a que vulgarmente chamamos hoje de Internet.

O Nascimento do Browser

Mas o puzzle ainda não estava completo. Para aceder à WWW, era preciso um programa específico para esse efeito. Tim Berners-Lee criou assim o primeiro navegador e editor de páginas da história, chamado simplesmente "WorldWideWeb". Embora funcional para os investigadores do CERN e universitários, não era fácil de utilizar pelo grande público.

O ponto de viragem ocorreu em 1993, com o lançamento do Mosaic. Criado por Marc Andreessen no National Center for Supercomputing Applications (NCSA), o Mosaic foi o primeiro navegador popular da Internet, cuja principal inovação era a capacidade de mostrar imagens e texto na mesma página. Além disso, tinha uma interface gráfica de fácil utilização. O sucesso do Mosaic foi imediato. 

Em 1994, Andreessen deixou o NCSA para fundar a Netscape e lançar o Netscape Navigator, que rapidamente se tornou o navegador dominante da época.

A popularidade do Netscape levou a uma reação da Microsoft, que, vendo o potencial da Web, lançou seu próprio navegador, o Internet Explorer, em 1995. Isso iniciou a "Guerra dos Browsers", uma disputa acirrada que durou anos. O Internet Explorer, por estar incluído gratuitamente com o Windows, acabou por dominar o mercado, levando à queda do Netscape.

Com o tempo, outros navegadores surgiram, como o Mozilla Firefox (criado a partir do Netscape) e, mais tarde, o Google Chrome, que revolucionou o mercado com sua velocidade e simplicidade, tornando-se o navegador mais usado no mundo.

Em resumo, a WWW, que é aquilo a que hoje chamamos Internet, é o sistema de informação criado por Tim Berners-Lee, enquanto que os navegadores são as ferramentas que permitiram que a Internet se tornasse a peça fundamental da nossa vida digital.

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